Lembro da sensação… Quando descobri que estava com câncer, todos os fantasmas vieram à tona, como nos filmes. Ainda hoje, o câncer carrega o rótulo de sinônimo de morte, embora saibamos que não é bem assim. Na época, fiquei muito mal, senti um frio no estômago, uma sensação horrível.
Nunca pensei que teria um câncer metastático, e hoje ajudo outras pessoas com conselhos e apoio sobre o assunto. Nesse caminho, perdemos muitos companheiros e companheiras para o câncer. Às vezes, me pergunto se também serei apenas uma história. Mas, se for, que seja lutando e ajudando outros a vencer o medo paralisante que o câncer traz.
- ESPERANÇA
Quando esses pensamentos vêm, paro e penso: “Estou de pé, trabalhando, ajudando outros, tenho uma filha e um marido que me amam e me apoiam…”. E quando as pessoas me perguntam como estou, sempre digo que estou ótima. Mas, em off, confesso que às vezes fico muito triste, para baixo, e choro, pois também sou humana e tenho medo!
- DIFICUILDADES
A dificuldade de quem tem câncer é olhar para o futuro e fazer planos. Na realidade, não consigo, porque não tenho certeza se estarei aqui. Então, faço planos para o hoje, o que me deixa feliz, pois faço exatamente o que quero: ajudar o próximo.
Quando se tem câncer, começamos a valorizar as pequenas coisas, e em tudo que faço encontro felicidade. Até mesmo na desgraça da doença e do tratamento, consigo encontrar coisas boas, pessoas legais, super fantásticas, novas experiências e, no meu caso, algumas pessoas na minha equipe de trabalho que acabam vivendo meu sonho, meus delírios, e amam o que fazem.
Procuro dizer mais ‘não’ do que ‘sim’, então hoje falo ‘dane-se’ com mais facilidade. Não tento agradar ninguém, procuro fazer a coisa mais correta possível e cada vez mais deixar as pessoas que amo participarem da minha vida, assim como afasto as pessoas que não quero por perto.
- NASCE O BEBÊ
Vivo intensamente, curto meu trabalho. Apesar do bom ânimo, às vezes sinto muitas dores. Não estou mais fazendo quimioterapia nem radioterapia, estou no tratamento “paliativo”. Eu teria todos os motivos para parar de trabalhar, pois a dor é paralisante na maioria das vezes, mas o que ganharia com isso? Exatamente nada. Preciso me sentir útil. Criei a Associação Filantrópica Arte Salva Vidas, que é parte do meu tratamento, pois além de ajudar outros, não me sinto uma vítima da doença. Amo trabalhar, minha equipe me apoia demais e sempre se preocupa comigo.
Apesar de ter renascido das cinzas como uma Fênix, nunca romantizo o câncer, porque não há romantismo em ter câncer. Tudo que quero é servir de exemplo, mostrar que a vida não termina por conta da doença. Você pode ser uma Fênix e renascer todos os dias das suas dores. Algumas pessoas vivem com diabetes, hipertensão, entre outras, e eu vivo com essa doença crônica que é o câncer.
- PERSISTÊNCIA
O câncer não é o fim e, para mim, foi o começo. Tenho consciência de que a doença que tenho não tem cura, mas se eu tiver a oportunidade de viver mais 10, 20 anos me tratando, estou no lucro. Hoje estou aqui lutando, sem deixar de ter medo dos próximos exames, mas vamos combinar que viver é melhor do que morrer. É muito bom acordar todas as manhãs, às vezes de bom humor e às vezes mais azeda que limão, mas não perco um minuto me lamentando ou me vitimando, porque amo o que faço. A morte não escolhe dia nem hora, então vamos viver até quando Deus permitir.